18 de abril de 2009

PIT BULL NÃO É O CÃO MAIS AGRESSIVO COMO MUITOS ACREDITAM


Nem pit bull nem rottweiler. O cão mais feroz do mundo é o dachshund, mais conhecido no Brasil como salsicha ou cofap. Segundo uma pesquisa da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, um em cada cinco representantes dessa raça já atacou ou tentou atacar estranhos, sendo que um em cada 12 avançou contra os próprios donos.
A vice-liderança dos bravos não é menos curiosa. Atrás do simpático salsichinha, está o chihuahua. A raça é a menor do mundo, mede entre 15 cm e 23 cm. É chamado de "o rei dos toys", mas apresenta na pesquisa alta taxa de ataques a estranhos. Os menos agressivos, de acordo com o estudo são: bernesses, golden retrievers, labradores, são-bernardos, britanny spaniels e greyhounds.

As raças com fama reconhecida de maus, como pit bulls e rottweilers, apresentaram média de agressividade considerada normal, ou baixa, no que diz respeito a ataques contra estranhos. O levantamento norte-americano foi feito com 6.000 proprietários de cachorros de 30 raças diferentes durante dois anos. O estudo será publicado na próxima edição da "Applied Animal Behavior Science", respeitada publicação da área.

O pit bull acabou redimido pela pesquisa. Só entra em sexto lugar na lista dos mais agressivos por ter alta taxa de investida contra outros cães (22%). A favor da raça que já esteve envolvida em vários casos de grande repercussão e até com vítimas fatais, os 6,8% de ataque contra estranhos é pequeno em comparação com os 20,6% do dachshund. A diferença, claro, está na força do golpe. "Uma mordida de um pit bull sempre causa mais estragos, ao contrário de uma de um dachshund", diz James Serpell, diretor do Centro para a Interação dos Animais e Sociedade da Escola de Medicina Veterinária da Universidade da Pensilvânia.

O resultado surpreendeu até os pesquisadores. "Não esperávamos que as raças consideradas agressivas apresentassem números de ataques abaixo da média e os 'fofinhos', acima", diz ele.

Os pesquisadores alertam sobre a diferença dos resultados da nova pesquisa comparados a outros levantamentos que usam estatísticas médicas de mordidas. Como os ataques de cães maiores costumam causar ferimentos mais graves que os menores, os números são distorcidos. "Quando um cachorro grande é agressivo, o estrago é proporcional", pondera James. "Chegamos à conclusão de que as pessoas são mais indulgentes com agressões de animais pequenos."


A pesquisa identificou uma forte relação entre agressividade e medo. De acordo com o pesquisador, os animais que mais atacam estranhos são os que sentem mais medo. É o caso do chihuahaua. "Eles agridem porque se sentem ameaçados. Deve ser assustador ser um minúsculo 'chihu'. Tudo é gigante para ele", justifica James. Os animais foram avaliados em relação a ataques ao dono, a estranhos e a outros animais. O resultado apontou enorme diferença entre raças e o tipo de ataque. "O akita é a raça mais agressiva com outros cachorros, mas pouco agressiva com seres humanos", compara o pesquisador.

MODA CANINA

Alexandre Rossi, zootecnista e mestre em psicologia animal pela USP, avaliou a pesquisa a pedido da Revista. Para ele o estudo é importante, mas aponta limitações. "Há uma variação enorme entre linhagens e localidades", explica. O especialista afirma ainda que a pesquisa falha ao não considerar o perfil do dono. "O comportamento dos proprietários é o que define o comportamento dos animais", resume.
Ele garante que a popularização das raças segue modismos. As preferências têm a ver com interesses, profissão, estilo de vida e idade dos donos. São características que determinam também a personalidade dos animais. Os cães acabam desenvolvendo comportamentos parecidos com os humanos. Donos permissivos criam cães sem limites. Donas que gritam levam seus cães a reagirem com histeria.
Tanto o especialista americano quanto o brasileiro concordam, porém, que atacar os próprios "pais" pode ser um sinal de excesso de mimos e passividade na relação com os pets. "O 'efeito proprietário' é o que realmente define a agressividade e todos os problemas comportamentais", resume Alexandre.
O novo vilão do mundo animal ficou famoso no Brasil depois de protagonizar uma série de comerciais. O salsichinha sempre aparecia ajudando a família. Em um dos filmes, ele chegava a deitar na frente do carro para impedir que seus donos viajassem. É difícil mesmo imaginar que o mimo de hoje pode virar a mordida de amanhã.
Veja os seis primeiros colocados do ranking:

1º - Dachshund
- Porte: cerca de 35 cm (o peito) e 7 kg
- Temperamento: amigável, nem nervoso nem agressivo
- Agressividade: 20,6% atacaram estranhos; 5,9%, os donos; 17,6%, outros cães
- Detalhe: é o que mais ataca pessoas

2º - Chihuahua
- Porte: cerca de 15 cm e entre 1,5 kg e 3 kg
- Temperamento: rápido, alerta, cheio de vida e muito corajoso
- Agressividade: 16,1% atacaram estranhos; 5,4%, os donos; 17,9%, outros cães
- Detalhe: é o que mais sente medo

3º - Jack russell terrier
- Porte: de 25 cm a 30 cm e entre 5 kg e 6 kg
- Temperamento: alerta, inteligente, destemido e amigável
- Agressividade: 7,7% atacaram estranhos; 3,8%, os donos; 21,8%, outros cães
- Detalhe: terceiro na lista de ataque a cães

4º - Akita
- Porte: cerca de 65 cm e entre 35 kg e 40 kg
- Temperamento: decidido e reservado, mas domina outros cães
- Agressividade: 3% atacaram estranhos; 1%, os donos; 29,3%, outros cães
- Detalhe: é o que mais ataca outros animais

5º - Pastor australiano
- Porte: de 46 cm a 58 cm e entre 18 kg e 30 kg
- Temperamento: corajoso, leal e afetuoso
- Agressividade: 6,2% atacaram estranhos; 0,6%, os donos; 14,7%, outros cães
- Detalhe: ataca dez vezes mais estranhos do que os donos

6º - Pit bull
- Porte: de 46 cm a 56 cm e entre 16 kg e 25 kg
- Temperamento: resistente, autoconfiante e alegre
- Agressividade: 6,8% atacaram estranhos; 2,3%, os donos; 22%, outros cães
- Detalhe: é a segunda raça mais agressiva com outros cães

(Fonte: Fonte: Pesquisa "Breed differences in canine agression" (As diferenças de raça na agressão canina), do Centro de Interação Animal & Sociedade da Escola de Medicina Veterinária da Universidade da Pensilvânia - Reportagem Revista Folha)

2 de abril de 2009

ATITUDE EXEMPLAR :- )

Era uma noite bastante comum de um dia de semana quando motoristas na Rodovia Raposo Tavares presenciaram uma cena inusitada. Um homem saiu do seu veículo e parou o trânsito para ajudar um cão assustado a atravessar a pista. De seus carros, pessoas aplaudiram e parabenizaram o ato de compaixão do veterinário Márcio Carbuglio, de 29 anos. O cão seguiu pela outra margem da rodovia, são e salvo.

O que motivou Márcio foi evitar um problema muito comum entre os cachorros: os atropelamentos. Afinal, a terceira maior causa de morte canina em São Paulo, assim como é de se esperar em outras cidades grandes, são os traumas e acidentes. Como diz o professor de cirurgia veterinária do Hospital da USP, Cássio Ricardo Auada Ferrigno, atropelamentos lideram essa lista disparado, sendo bem mais frequentes que violência e quedas. São também a causa de até 20% das cirurgias realizadas no hospital, estima ele.
O veterinário Márcio, antes de fazer com que o cão chegasse a salvo do outro lado da pista, já havia resgatado cachorros que não tiveram a mesma sorte e foram atropelados. Entre eles, a cadela Tropelada (com 'T' mesmo), que está com ele há cinco anos. Ele estava saindo da mesma rodovia quando a viu sendo atingida por um carro. Parou para ajudar quando o motorista fugiu. O veterinário a amordaçou para evitar uma mordida e a levou para a clínica onde trabalha. Ela havia sofrido fratura no fêmur da pata esquerda e luxação na direita, portanto demorou para ficar boa. Quando ficou, Márcio levou-a para casa, onde cria mais três cachorros. Ele descreve a cadela como a mais alegre e obediente dos seus animais de estimação, esquecendo-se de citar as sequelas físicas bastante visíveis.
Tropelada deve saber que tem sorte. Apenas uma pequena parte dos cachorros atropelados chegam a um hospital ou clínica veterinária porque o resgate, além de ser perigoso, também acarreta em assumir o cão como sua responsabilidade, ainda que temporária, além dos gastos do tratamento. No caso de Márcio, o que o permite fazer essas boas ações é o fato de saber cuidar dos animais. "É muito raro um desconhecido encontrar um cão atropelado e resgatá-lo", afirma a veterinária Simone Franceschini, 32. "Acolhi uma cadela essa semana que foi encontrada e trazida pela mãe de uma veterinária". Simone diz que o tratamento não será cobrado já que a filha dessa senhora trabalha na mesma clínica, mas admite que, se fosse, não sairia por menos de R$ 800. Nem mesmo hospitais veterinários públicos, como o da USP, recebem cachorros tão machucados por caridade e sem que a pessoa que resgatou assuma o animal, já que eles são muitos, o tratamento é caro, demorado e ainda precisa-se encontrar um dono para acolhê-lo depois de curado.
DIFÍCIL SIM. IMPOSSÍVEL NÃO.
"Desci do carro para ajudar esse e outros cachorros porque eu estava ali. Não poderia ver um animal precisando de ajuda e simplesmente passar reto", diz Márcio sobre os cachorros que resgatou. Suas palavras poderiam ser ditas por muitas outras pessoas que amam animais e que certamente ajudariam a mudar essa situação, se soubessem como.
A primeira iniciativa é praticar a Posse Responsável. "A causa de tantos animais morrerem desse jeito é o abandono. Animal largado na rua está suscetível a ser atropelado. Não castrar os animais também aumenta a população canina que corre esse risco", diz o professor veterinário Cássio Ricardo. Se muitos donos não são responsáveis como deveriam, você pode adotar um cão abandonado e, provavelmente, salvá-lo desse destino.
Se puder, pare por um animal machucado e leve-o ao veterinário - boa parte das clínicas e hospitais veterinários praticam uma espécie de política de compaixão, o que significa que cobram muito menos em situações especiais como essas. No entanto, lembre-se que animais com dor podem ser agressivos. Faça uma mordaça com o seu cadarço para evitar mordidas.
Mesmo se não tiver condições financeiras, você pode ajudar. "Uma possibilidade é levar o animal para o Centro de Zoonoses", sugere o professor Cássio Ricardo. "Lá eles cuidam do acidentado e, quando não há tratamento possível, ele é sacrificado. Mas pelo menos não fica agonizando na rua", diz ele, que não consegue deixar um animal nesse estado e pára toda vez que vê um, ainda que seja para lhe dar um fim digno. Assim como nas cidades, levar para o Centro de Zoonoses é também a política de algumas concessionárias de estradas – outro cenário de muitos acidentes -, como a Ecovias. São resgatados por mês 190 animais em seus 177 quilômetros do complexo Anchieta-Imigrantes e desses 80% são cachorros, por exemplo. No entanto, eles oferecem o contato de seis veterinários da região para quem quiser resgatar um animal atropelado.
No caso de quem cuidaria de um cão machucado, mas não pode tê-lo em casa, a solução é encontrar para ele um dono depois de curado. Para isso, conte com o auxílio das ONGs de proteção animal. A Projeto Cel, por exemplo, organiza feiras de adoção de animais abandonados todos os finais de semana. "A maioria dos animais consegue sim arranjar um novo dono. Vale muito a pena salvar um cão ", afirma Eliete Brognoli, fundadora da ONG.
Embora o problema dos cães abandonados e com péssimas condições de vida ainda necessite de mais estrutura para ser solucionado, quem já cuidou e adotou um animal necessitado sabe que a gratidão deles faz realmente valer a pena. Então, o que você vai fazer da próxima vez que vir um cachorro machucado?
(Fonte: Yahoo Notícias)