14 de agosto de 2009

No Limite testa muito mais os limites de um público com postura ética do que o de seus participantes

Em busca de audiência, às vezes, as emissoras perdem a noção de bom-senso. Deixam, inclusive, de avaliar que tipo de audiência querem atrair e que tipo de pessoas irão formar com os programas que exibem. É uma responsabilidade muito grande colocar um programa no ar: tanto de seus produtores quanto dos editores, diretores e apresentadores.

O mundo todo se mobiliza em função de tratar eticamente os animais, incluindo os que são usados na alimentação.Em países mais avançados a vivessecção já está sendo banida. Por isso, hoje em dia quase ninguém mais fica indiferente as cenas que o programa No Limite da Globo andou exibindo com matança de galinhas e coruja amarrada pelas asas. Aliás, não se deveria dar aos participantes do programa a opção de matar galinhas. Estamos falando de um programa de TVe não de uma granja. Existem leis que proibem o uso de animais em ações de entretenimento, ainda mais quando isso implica em aflição e dor para essas criaturas indefesas.

É comum vermos em filmes estrangeiros cenas com matança de bichos (O Corvo é um exemplo), mas depois a gente lê no letreiro: nenhum animal deste filme foi submetido a maus-tratos. Infelizmente, o mesmo não ocorreu com Cidade dos Homens naquela perseguição à galinha que terminou sendo realmente morta (um filme que pode ganhar muitos prêmios, mas eu não me dou o trabalho de assitir e muito menos de elogiar). Se os atores não precisam ferir de verdade uns aos outros... se há técnicas tão perfeitas para sugerir morte e sangue, por que não aplicar as mesmas técnicas nas cenas com animais a fim de poupá-los de sofrimentos reais?

Matar animais não é arte e nem diversão.Várias pessoas perceberam também que uma coruja colocada no cenário de apresentação do programa estava amarrada pelas asas! Ela pode ter sofrido cortes e ferimentos capazes de impedí-la pra sempre de voar.

O que mais choca é que eu e milhares de outras pessoas crescemos assistindo o Globo Repórter - um programa que sempre lutou pela preservação ambiental e da fauna em vários pontos do mundo. O Globo Repórter teve um papel importantíssimo na formação das crianças e jovens brasileiros. Por isso, o programa No Limite causa grande decepção em seu público fiel, que sempre acompanhou programas voltados para a proteção da fauna.

Tenho 20 anos de jornalismo e só vi cenas de teor semelhante em programas de baixíssimo nível que logo saíram do ar. Há muitas formas saudáveis de se testar o "limite" das pessoas num programa de TV. Formas que, inclusive, podem passar uma mensagem ecológica ou eticológica ao público. E há muitos jornalistas éticos que podem ajudar a Globo nisso. O que não pode acontecer é as emissoras terem permissão para continuar colocando à prova o "limite" dos espectadores ao terem que tolerar cenas de crueldade contra animais indefesos.
Espero que a Globo, seus jornalistas mais sérios e os orgãos que fiscalizam as redes de comunicação no país tomem uma providência. Afinal... é o mínimo.

No site da ARCA Brasil há uma carta-modelo para as pessoas que quiserem se manifestar a respeito. Acessem:
http://www.arcabrasil.org.br/noticias/0908_no_limite.html

Fátima Chuecco - jornalista ambientalista - responsável pela divulgação do Ano Internacional do Gorila no Brasil - YoG 2009 (da Unesco)
www.gorillashelp.com

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